A Construtora Brasília

1959


O jovem português Manuel Alho da Silva, ainda em Ourém, cidade próxima a Fátima, soube por meio do jornal da efervescência cafeeira e da prosperidade que essa cultura gerava para o Norte do Paraná. O espírito empreendedor e o entusiasmo para conhecer um mundo novo o trouxeram para estas terras. Desembarcou no Brasil em julho de 1952. E, em 1953, veio para Londrina, cidade que escolheu para morar, trabalhar e constituir família. Casou-se com dona Dagmar Eneida Christino. 

Por meio de concurso tornou-se funcionário público, trabalhando no departamento de obras do município. O prefeito da época era o Milton Menezes. Na prefeitura permaneceu por cerca de sete anos. Em 1959, chamou para ser seu sócio o engenheiro e pioneiro Milton Gavetti e com ele fundou a Construtora Brasília, empresa que nasceu no dia 8 de outubro. Além da construtora, iniciaram juntos a empresa Estacas CBL. 

Londrina passava por um momento de muitos empreendimentos. O primeiro projeto de vulto feito pela Construtora Brasília foi o edifício Willie Davids. A grande inovação da construtora foi o lançamento do primeiro condomínio em Londrina, em 1960. A ideia foi trazida de Portugal por Manoel Alho, tornando a Brasília a primeira a construir pelo sistema de condomínio no Brasil. Esse feito se deu com a edificação do Condomínio Piauí, na rua Piauí, entre a avenida Higienópolis e a rua Prefeito Hugo Cabral. Trata-se de um prédio com quatro pavimentos e doze apartamentos. 

No sistema de condomínio, a obra era executada pelo preço de custo, sendo acrescida apenas a porcentagem paga pela prestação de serviços da construtora. Uma comissão dos condôminos geriam a obra, cabendo à construtora apenas executar o empreendimento para o qual foi contratada. Tal sistema deu certo e foi um sucesso, sendo realizado posteriormente por outras construtoras de Londrina.  

Para a Construtora Brasília, a construção de edifícios veio como uma evolução normal por causa da demanda que existia. O crescimento econômico fez de Londrina pólo de atração populacional. A verticalização foi um fenômeno precoce na cidade, impulsionada pela crença de que morar em apartamento era sinônimo de status. Também, por serem construídos na região central da cidade, a comodidade de estar próximo do comércio e dos serviços, era outro fator que estimulava a edificação dos prédios.

Em 1963, a sociedade foi desfeita, ficando Milton Gavetti com a firma de estaqueamento e Manoel Alho com a construtora. Em 1964, o engenheiro Guidimar Guimarães, que começou na firma como estagiário, passou a ser sócio da Construtora Brasília. Além de Guidimar, nesse momento, entraram para o quadro societário da empresa Armando de Freitas e Dagmar Alho. Em 1970, Armando de Freitas saiu da firma. 

Durante a década de 1970 a Brasília não construiu pelo sistema de condomínio, utilizou em algumas situações recursos próprios e, em maior parte das obras, recursos provenientes do Sistema Financeiro Habitacional, que, até 1980, eram disponibilizados em grande quantidade para as empresas, que repassavam para o comprador.

A pioneira do processo de verticalização de Londrina também manteve o protagonismo nos anos 1970, sendo responsável por 20%, em média, dos prédios de 4 ou mais pavimentos construídos na cidade. 

Em 1979, Guidimar Guimarães saiu da sociedade e, então, a Construtora Brasília ficou somente com a família de Manoel Alho. Na década de 1980, a construtora passou a atuar também na edificação de obras públicas e de obras comerciais e industriais. Venceu diversas licitações do Governo Federal e realizou obras para empresas como Banco Itaú, Caixa Econômica, Unibanco, entre outros. Continuou construindo prédios residenciais, e para além de Londrina. Nessa fase, a Construtora Brasília, atuando em 40 cidades, chegou a ter 137 prédios em construção em todo o território nacional, todos com mais de oito pavimentos.

Em sua dissertação de mestrado, “A Verticalização de Londrina: 1970/2000 – Ação dos Promotores Imobiliários”, Viviane Rodrigues de Lima Passos apontou que a Construtora Brasília edificou 5,75% do total da área dos edifícios de Londrina entre 1970 e 2000. Foram 53 edifícios construídos nesse período, que correspondem a 246.614,37 m². Entre as construtoras, ficou em primeiro lugar em área construída e em sexto em número de edifícios.

A Construtora Brasília foi desativada em 1997.

Fontes: PASSOS, Viviane Rodrigues de Lima. “A Verticalização de Londrina: 1970/2000 – Ação dos Promotores Imobiliários”. Dissertação de Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Departamento de Geociências. Centro de Ciências Exatas. Universidade Estadual de Londrina. 2007. / Acervo Folha de Londrina / Acervo Londrina Histórica.

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